Pular para o conteúdo principal

Sons da vida

Você já ouviu som de cemitério?
........
.......
.......
.......

Este é o som de cemitério. Triste. Vazio. Nem a respiração se ouve. Aliás, o pouco que se ouve, é o restante do choro das pessoas que ficaram e veem a última cena que queriam ver na vida.
Parece que o tempo para. Há somente a movimentação dos coveiros que fazem seu trabalho, sem emoção nenhuma, como outro ofício qualquer.
O sentimento no ar é inexplicável. Ninguém que está ali por querer. Não há um adolescente que passeia por entre os túmulos para apreciar obras e estátuas, ou mesmo senhorinhas trocando as flores que já também não vivem. Há somente pessoas que não queriam estar ali presenciando a única certeza da vida.

Recentemente presenciei também, e, por este ano, o terceiro. A cena é a mesma, as pessoas pouco mudam, mas a respiração no ar e o som do "nada" é o mesmo. Vivenciar é torturante, e o engraçado da história é ver pessoas que faz muito, algumas muito mesmo, tempo não se vê. E estes encontros parecem propositais por Deus, como se ELE dissesse :"Vocês não se encontram por bem, será por mal." E lá, mais por obrigação mesmo, vamos. Sem pensar. Largamos tudo que é sempre inadiável e vamos! Larga-se tudo e se vai!!!

POR QUÊ????

Neste último foi doido, aliás, parece que para mim a ficha ainda não caiu. Como o via de vez em quando, a presença dele ainda não fez realmente falta. Quando paro para pensar, parece que é mentira. Aquele corpo dentro do caixão estava tão perfeito que mais parecia aqueles bonecos de cera do Madame Tussaud que parecem ter vida, que se levantaria a qualquer momento e nos pregaria uma peça, ou diria algumas das suas tiradas e voltaríamos à vida, felizes e em festa.
"Meirinha, chega. Chega de choro! Vamos! Vamos que tenho muito a fazer!"
Ou chegaria por trás, desse um tapa de carinho, um beijo e diria " Só um tapinha! É de carinho!"

Cada uma, que se enumerasse aqui, não acabaríamos e se perguntasse a cada um que o conhecia seria uma eternidade.

Sei que lembraremos disto com carinho, riremos de muitas façanhas, do seu jeito, das suas brabezas, dos seus conselhos, das suas intolerâncias, mas faz parte da nossa jornada.

Deveríamos virar estrela, já vir com este destino e saber que o dia chegaria sem sofrimento. Como se fosse um nascimento, mesmo que de surpresa, mas sem dor. Acho que isto é o que machuca mais. Saber que um ser que se ama tanto, sofre. Sofre e não podemos fazer nada além de dar carinho e palavra de consolo que nem sempre são absorvidas.

O que somos? Para onde vamos? Será que tanta bagagem adquirida não serve pra nada??
Quem vai colher mel? Fazer mudas? Mercado? Cuidar dos animais do sítio? Levar as crianças para escola? Dançar bolero e rock? Varrer a calçada? Buscar 10 pães? Acertar o pedaço torto do bolo? Cumprimentar a cidade inteira? E tantas outras que não consigo lembrar agora!

As festas de família não serão as mesmas. Já não são desde quando o meu avô, tia Nice se foram, agora falta mais um...

" Não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti, e de tristeza vou vivendo e aquele adeus não pude dar...Você marcou a minha vida, viveu morreu na minha história..."

Zé, obrigada por fazer parte da minha vida jogada. Obrigada por ter sido confundido com meu pai na maternidade, por telefonar em todos os meus aniversários, por ser meu padrinho de casamento, por nos receber na sua casa a qualquer momento, por ter sempre um café passado, por seu abraço gostoso...tio, espero que esteja bem com tantos que já foram e fazem falta como você faz e fará!!!

Te amo!!!

PS - Tenho uma carta comigo que não foi dada a ele por falta de coragem, por pensar que me julgariam e  que estaria dando um adeus antes do tempo... mais uma vez, arrependo-me por isto.


Resultado de imagem para foto do sol



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Tempo e o Vento - Érico Veríssimo - projeto literário - Colégio Internacional EMECE - 9º anos - prof. Andrea Pengo

A trilogia O Tempo e o Vento, do escritor Erico Verissimo, é considerada por muitos a obra definitiva do estado do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes do Brasil. Dividida em O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago (1962), o romance representa a história do estado gaúcho, de 1680 até 1945 (fim do Estado Novo), através da saga das famílias Terra e Cambará. O Continente A primeira parte de O Tempo e o Vento foi publicada em Porto Alegre no ano de 1949 e narra a formação do Estado do Rio Grande do Sul através das famílias Terra, Cambará, Caré e Amaral. O ponto de partida é a chegada de uma mulher grávida na colônia dos jesuítas e índios nas Missões. Esta mulher dará à luz o índio Pedro Missioneiro, que depois de presenciar as lutas de Sepé Tiaraju através de visões e ver os portugueses e espanhóis dizimarem as Missões Jesuíticas, conhecerá Ana Terra, filha dos paulistas de Sorocaba Henriqueta e Maneco Terra, este filho de um tropeiro que ficou encantado com o Rio Gr...

Postagem antiga - 2017

 Levei uma turma para ouvir " Eduardo e Mônica", letra solicitada pelo currículo do Estado. Inevitavelmente me vem à cabeça meus 15 anos q quando comprei "Dois" do Legião. Cheiro de L me vem à mente e consequentemente Patty, Dé, Sil, Dinha, Cabral , Julinho, Mauro, Maurício...hum, esse não. As tarde na casa da Patty onde ficávamos analisando as letras da banda, essas que no levavam à loucura com suas provocações, narrativa e reivindicações, versos, melodias. E NÓS, ADOLESCENTES, DESCOBRINDO A VIDA, ESCUTÁVAMOS E OUVÍAMOS CENTENAS DE VEZES O DISCO TODO A FIM DE DECORARMOS cada letra e sentindo o que o Renato se expressava ali. Sentir saudades daquilo á vezes me faz bem, outras não. Alguns flashs como Woodstock e reviver Rock Memory, Paulista, trazem à mente paz e saber que valeu à pena sentir cada tom de m´música revivendo lembranças que ficarão para sempre no coração. Lembro-me de momentos que poderiam ter passado em branco e que já quase esquecidos, parecem despert...