Todo ano é a mesma coisa. Lá se vai mais uma ou duas turmas e nós, professores cheios de esperança, ficamos aqui a espera de notícias, se deram certo, ou não.
Esta turma de 2016 não foi diferente. Logo no início de dezembro já se despediam da escola, e nós, com montanhas de atividades a serem finalizadas, parecemos não dar importância, como se tivéssemos a certeza de que estariam zanzando pelos corredores no dia seguinte e mal falamos tchau.
No entanto, tenho algumas notas a dizer sobre esta turma específica. Foi minha primeira classe de quinta série, hoje já sexto ano, e confesso que relutei, pois são muito pequenos,inquietos, sei lá...não fazia minha cabeça. Não tive escolha. A quinta série da tarde seria minha naquele ano de 2013.
Ok, vamos lá.
Minha primeira careta foi feita quando recebida no primeiro dia, ouvi um coro de vozezinhas dizendo" Boa tarde, professora Andrea". My God! Quase tive um colapso nervoso. Não sabia se gritava, se corria, se ria. Parei na porta e ali fiquei contando até dez para pensar na atitude que deveria tomar.
Respirei fundo. Entrei. Muito, mas muito sem graça.
" Boa tarde, quinta série"
Posicionei-me, fiz com que se acalmassem e dali por diante, a turma seria assim.
Sim, eles são infantis, só têm 11 anos! Todos os dias era recebida com aquele coro monumental e de propósito, berravam mais a cada dia.
Percebi que apesar de pequenas, eram responsáveis e organizados. Seus cadernos, não de todos, claro, eram cuidados com carinho e sempre coloridos. Comecei a gostar do que estava acontecendo. Demorei a gravar todos os nomes, afinal eram mais de 36, e todos com nomes de anjos, e tantos ELS na minha frente, que aos poucos gravei e firmei com uma brincadeira que aprendi : fazer com que todos dissessem o nome de todos várias vezes. Moleza.
Uma delas parecia-me muito familiar, perguntei se era irmã de alguém e disse que sim. Ufa!!! Aluna maravilhosa e assim, a pequena também o era.
Os pequenos da escola marcaram território. Não deixavam que os maiores invadissem o pedaço.
Logo de cara realizaram teatro. Pintaram seus rostos em concurso de maquiagem. Produziram paródia.
Ganhei Nutella e um livro do Pequeno Príncipe, que mais tarde fui saber que havia sido dado pelo pai que falecera. Quase morri de remorso.
No ano seguinte, alguns ficaram, outros não, mas a turma quase que a mesma. Ganharam um exemplar, um para cada, do livro Meu Pé de Laranja Lima. Havia lido quando criança, então decidi ler com eles. Trechos em casa e trechos comigo. Quem sabe não tomariam gosto pela leitura?
Um dia chegamos ao capítulo no qual o Portuga morre. CARACA! Fazia poucos dias tinha perdido a avó do meu marido, a pequena que havia me dado o livro, perdido o pai, e as palavras que descreviam o que Zezé sentia, subiram-ma à garganta, fazendo-me um nó que chegava a doer. Tentei conter as lágrimas, mas não consegui. Sai da sala sem explicações para que não chorasse na frente deles. Parei, respirei e para minha sorte o sinal da próxima aula tocou. Foi o tempo de entrar, pedir desculpas aos pequenos e pedir que o próximo professor os acalmasse.
Chegaram à sétima série com a mesma tropa. As panelas se fortaleceram e parece que ali ficou a turma dos inteligentes e a dos nem tanto, e sempre com a disputa acirrada no dia a dia. Como gosto de cérebros pensantes, acabava pendendo para o lado dos que queriam algo interessante para aprender.
Contudo, os dias se passavam e, crescendo não faziam tantas peripécias infantis, mostrando-se que a adolescência os esperava e assim, com muitos rostos novos no pedaço, a sala foi se fazendo, ou se desfazendo, criando sua característica de a sala infernal da escola.
Como querem que 43 anjos se comportem em um espaço minúsculo?? Difícil.
Dançaram ciranda com o pessoal da 8 série lindamente, construíram cartazes de papéis cortados, realizaram feitos durante o ano, os quais nos infernizaram bastante!! Assisti com ela a trilogia de "De volta para o futuro" a fim de que pensassem no que pode nos acontecer e refletir no nosso cotidiano. Enfim, apesar de nos deixarem doidos, a participação era real.
" É a sétima série! Todo ano é assim!" Diziam os professores.
Acabado o ano, vieram se despedir, quase todos, dizendo que iriam para o turna da manhã.
Fiquei com cara de pastel e sem poder interferir. Afinal, uns tinha compromisso, outra estudos.
OK.
Quando foi início de janeiro, uma delas me chamou para mostrar sua revolta em não ter conseguido passar para a manhã. Nem ela e nem os que faziam parte da turma dos estudiosos.
Ainda bem!!!!! Fiquei feliz!!! Eles nem tanto...
ADOREI!
Então, no primeiro dia de aula, lá estavam eles, pelo menos metade, com a expressão frustrada de estarem ali novamente, e eu agradecendo aos céus por terem sido eles que ficaram enroscados na lista de mudança.
"Pro, por quê?"
"Sei lá."
Coincidência ou não, pra mim foi realizador. Estar mais um ano com uma turma que acompanhei desde sempre foi maravilhoso!
E este ano passou tão rápido. Mal deu pra sentir que estavam indo embora.
Mas antes, conto que chegaram muito novos. Muitos mesmo. Assutados, pois já cheguei chutando o balde e apavorando aqueles que acham que podiam tudo, conquistei-os e fiz com que muitos mostrassem que podem mais do que lhes disseram.
Minha turma boa, ficou melhor, apesar de falaram alto demasiadamente e demais.
Os outros, fiz com que sentissem que ali tinham apoio, incentivo, cobrança, querer que ficassem melhores.
Incentivei-os a ler e os que consegui, mostrei a cada um como eram quando aqui chegaram. Sentiram-se fortalecidos e respeitados.
Mostraram união na semana da gincana, e juntos, montaram times, paródias, contas de matemática, coreografia e participação em equipe.
Chantilly no cabelo e pelos corredores também fizeram parte da bagunça, prometendo contar à direção para que a bronca fosse menos doida.
Alguns, parece que a vida lhe dará jeito, outros nos escutaram e assim, a certeza de que farão o melhor e procurarão sempre crescer em todos os aspectos para que a vida seja maneira e legal!
Disse sempre a eles que o mais fácil da vida estava terminando. Que a doçura da escola chegaria ao fim antes do Ensino Médio e que ficassem atentos, pois a cobrança externa seria maior e menos carinhosa. Espero que tenham compreendido e façam de seus passos vitoriosos.
Quero que mostrem ao mundo que tiveram as melhores pessoas no seu ensino e que a escola na qual finalizaram esta etapa também foi responsável pelo seu sucesso.
Que a vida seja doce com cada um e que as pedras que aparecerem sejam para a construção da escada do sucesso.
Mil beijos nossos!!
Esta turma de 2016 não foi diferente. Logo no início de dezembro já se despediam da escola, e nós, com montanhas de atividades a serem finalizadas, parecemos não dar importância, como se tivéssemos a certeza de que estariam zanzando pelos corredores no dia seguinte e mal falamos tchau.
No entanto, tenho algumas notas a dizer sobre esta turma específica. Foi minha primeira classe de quinta série, hoje já sexto ano, e confesso que relutei, pois são muito pequenos,inquietos, sei lá...não fazia minha cabeça. Não tive escolha. A quinta série da tarde seria minha naquele ano de 2013.
Ok, vamos lá.
Minha primeira careta foi feita quando recebida no primeiro dia, ouvi um coro de vozezinhas dizendo" Boa tarde, professora Andrea". My God! Quase tive um colapso nervoso. Não sabia se gritava, se corria, se ria. Parei na porta e ali fiquei contando até dez para pensar na atitude que deveria tomar.
Respirei fundo. Entrei. Muito, mas muito sem graça.
" Boa tarde, quinta série"
Posicionei-me, fiz com que se acalmassem e dali por diante, a turma seria assim.
Sim, eles são infantis, só têm 11 anos! Todos os dias era recebida com aquele coro monumental e de propósito, berravam mais a cada dia.
Percebi que apesar de pequenas, eram responsáveis e organizados. Seus cadernos, não de todos, claro, eram cuidados com carinho e sempre coloridos. Comecei a gostar do que estava acontecendo. Demorei a gravar todos os nomes, afinal eram mais de 36, e todos com nomes de anjos, e tantos ELS na minha frente, que aos poucos gravei e firmei com uma brincadeira que aprendi : fazer com que todos dissessem o nome de todos várias vezes. Moleza.
Uma delas parecia-me muito familiar, perguntei se era irmã de alguém e disse que sim. Ufa!!! Aluna maravilhosa e assim, a pequena também o era.
Os pequenos da escola marcaram território. Não deixavam que os maiores invadissem o pedaço.
Logo de cara realizaram teatro. Pintaram seus rostos em concurso de maquiagem. Produziram paródia.
Ganhei Nutella e um livro do Pequeno Príncipe, que mais tarde fui saber que havia sido dado pelo pai que falecera. Quase morri de remorso.
No ano seguinte, alguns ficaram, outros não, mas a turma quase que a mesma. Ganharam um exemplar, um para cada, do livro Meu Pé de Laranja Lima. Havia lido quando criança, então decidi ler com eles. Trechos em casa e trechos comigo. Quem sabe não tomariam gosto pela leitura?
Um dia chegamos ao capítulo no qual o Portuga morre. CARACA! Fazia poucos dias tinha perdido a avó do meu marido, a pequena que havia me dado o livro, perdido o pai, e as palavras que descreviam o que Zezé sentia, subiram-ma à garganta, fazendo-me um nó que chegava a doer. Tentei conter as lágrimas, mas não consegui. Sai da sala sem explicações para que não chorasse na frente deles. Parei, respirei e para minha sorte o sinal da próxima aula tocou. Foi o tempo de entrar, pedir desculpas aos pequenos e pedir que o próximo professor os acalmasse.
Chegaram à sétima série com a mesma tropa. As panelas se fortaleceram e parece que ali ficou a turma dos inteligentes e a dos nem tanto, e sempre com a disputa acirrada no dia a dia. Como gosto de cérebros pensantes, acabava pendendo para o lado dos que queriam algo interessante para aprender.
Contudo, os dias se passavam e, crescendo não faziam tantas peripécias infantis, mostrando-se que a adolescência os esperava e assim, com muitos rostos novos no pedaço, a sala foi se fazendo, ou se desfazendo, criando sua característica de a sala infernal da escola.
Como querem que 43 anjos se comportem em um espaço minúsculo?? Difícil.
Dançaram ciranda com o pessoal da 8 série lindamente, construíram cartazes de papéis cortados, realizaram feitos durante o ano, os quais nos infernizaram bastante!! Assisti com ela a trilogia de "De volta para o futuro" a fim de que pensassem no que pode nos acontecer e refletir no nosso cotidiano. Enfim, apesar de nos deixarem doidos, a participação era real.
" É a sétima série! Todo ano é assim!" Diziam os professores.
Acabado o ano, vieram se despedir, quase todos, dizendo que iriam para o turna da manhã.
Fiquei com cara de pastel e sem poder interferir. Afinal, uns tinha compromisso, outra estudos.
OK.
Quando foi início de janeiro, uma delas me chamou para mostrar sua revolta em não ter conseguido passar para a manhã. Nem ela e nem os que faziam parte da turma dos estudiosos.
Ainda bem!!!!! Fiquei feliz!!! Eles nem tanto...
ADOREI!
Então, no primeiro dia de aula, lá estavam eles, pelo menos metade, com a expressão frustrada de estarem ali novamente, e eu agradecendo aos céus por terem sido eles que ficaram enroscados na lista de mudança.
"Pro, por quê?"
"Sei lá."
Coincidência ou não, pra mim foi realizador. Estar mais um ano com uma turma que acompanhei desde sempre foi maravilhoso!
E este ano passou tão rápido. Mal deu pra sentir que estavam indo embora.
Mas antes, conto que chegaram muito novos. Muitos mesmo. Assutados, pois já cheguei chutando o balde e apavorando aqueles que acham que podiam tudo, conquistei-os e fiz com que muitos mostrassem que podem mais do que lhes disseram.
Minha turma boa, ficou melhor, apesar de falaram alto demasiadamente e demais.
Os outros, fiz com que sentissem que ali tinham apoio, incentivo, cobrança, querer que ficassem melhores.
Incentivei-os a ler e os que consegui, mostrei a cada um como eram quando aqui chegaram. Sentiram-se fortalecidos e respeitados.
Mostraram união na semana da gincana, e juntos, montaram times, paródias, contas de matemática, coreografia e participação em equipe.
Chantilly no cabelo e pelos corredores também fizeram parte da bagunça, prometendo contar à direção para que a bronca fosse menos doida.
Alguns, parece que a vida lhe dará jeito, outros nos escutaram e assim, a certeza de que farão o melhor e procurarão sempre crescer em todos os aspectos para que a vida seja maneira e legal!
Disse sempre a eles que o mais fácil da vida estava terminando. Que a doçura da escola chegaria ao fim antes do Ensino Médio e que ficassem atentos, pois a cobrança externa seria maior e menos carinhosa. Espero que tenham compreendido e façam de seus passos vitoriosos.
Quero que mostrem ao mundo que tiveram as melhores pessoas no seu ensino e que a escola na qual finalizaram esta etapa também foi responsável pelo seu sucesso.
Que a vida seja doce com cada um e que as pedras que aparecerem sejam para a construção da escada do sucesso.
Mil beijos nossos!!
Fantástico!!
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